sábado, 8 de agosto de 2009

7- Nicéia II

7
SEGUNDO CONCÍLIO DE NICÉIA
(VII Ecumênico)



Este sétimo concílio ecumênico foi reunido em Nicéia no ano 787 - Convocado por Irene, a imperatriz regente. Sancionou o culto às imagens; ou seja, declarou a legitimidade de dar reverência a quadros e imagens que representassem realidades divinas.

Antecedentes

Ao começo do século VIII, significou uma época crucial para o Império Bizantino, pela abrupta irrupção dos exércitos muçulmanos; mas quando estes assediavam nas próprias portas de Constantinopla; sobe ao poder imperial Leão III (717-740), da dinastia isáurica, salvando assim à capital do império, devolvendo a Este o prestígio perdido, e reconquistando muitos territórios que tinham sido tomados pelos árabes. Este mesmo impulso reconquistador foi retomado por seu sucessor Constantino V (740-775), quem chegou até as mesmas margens do rio Eufrates, nos limites das antigas terras mesopotâmicas.

Pelas atas do concílio da Elvira (Espanha), sabe-se que o cristianismo antigo, pós primitivo, era adverso ao culto e adoração às imagens religiosas, mas ante a decadência da cristandade a partir de Constantino o Grande, se foi introduzindo esse costume devido à influência pagã; mas como resultado das invasões e da influência dos muçulmanos, ao parecer inimigos da idolatria, surgiu um movimento iconoclasta, e foi quando o imperador Leão III, oriundo da Anatólia, menos dado à idolatria que os gregos, compreendeu o justo das brincadeiras dos infiéis, e dentro do pacote de suas reformas imperiais, introduziu a proibição do culto das imagens no ano 730, e aquilo durou por mais de um século, situação conhecida na história como a controvérsia das imagens. Terá que reconhecer que o cristianismo gradualmente se foi transformando, de tal maneira que seus elementos originais já na idade Média era difícil reconhecê-los; e não é de sentir saudades que, por exemplo, o genuíno arrependimento chegasse a degenerar-se em penitência, a ceia do Senhor, converteu-se em um sacrifício expiatório devotado por um sacerdote terrestre, com o estranho poder de salvar a vivos e a mortos, rito que até hoje chamam missa, termo do latim, que significa reunião. Então, imagine o leitor aquela situação.

Maomé, o originador do islamismo tinha conhecido os textos do Antigo Testamento; ele sabia que era descendente de Abraão pela linhagem de Ismael, ele conhecia os textos de Moisés incluído o Decálogo onde está proibida a idolatria; pela leitura do Novo Testamento, Maomé sabia a respeito de Jesus de Nazaré, e estava contra a adoração das imagens, e seus seguidores se encontram um cristianismo decadente e idolátrico, o qual sem dúvida é o alvo das brincadeiras do islamismo. A tal ponto conhecia Maomé a Bíblia, que para ele a revelação de Deus no mundo é progressiva e reconhece seis fases ou graus nela: Adão, Noé, Abraão, Moisés, Jesus e, é obvio, Maomé. É inegável que os árabes tinham sido idólatras antes do islamismo. A Meca, antes do advento da religião iniciada por Maomé, era um verdadeiro panteão de divindades árabes, mas ao surgir o Corão, o islamismo consolidou a adoração só a Alá, que eles por tradição desde antigo já conheciam como o pai de todos os deuses, e a quem os peregrinos já vinham adorando em uma pedra negra que era guardada dentro de um edifício, a Caaba. Mas, o que diz a Palavra de Deus? Diz em Êxodo 20:3-6:

"3 Não terá deuses alheios diante de mim. 4 Não te fará imagem, nem nenhuma semelhança do que está acima no céu, nem abaixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. 5Não se inclinarás a elas, nem as honrará; porque eu sou Jeová seu Deus, forte, ciumento, que visito a maldade dos pais sobre os filhos até a terceira e quarta geração dos que me aborrecem, 6 e faço misericórdia a milhares, aos que me amam e guardam meus mandamentos".

"Não farão para vós ídolos, nem escultura, nem porão em sua terra pedra grafite para lhes inclinar a ela; porque eu sou Jeová seu Deus" (Levítico 26:1).

"15 Guardai, pois, muito suas almas; pois nenhuma figura viram o dia que Jeová falou convosco no meio do fogo; 16 para que não lhes corrompam e façam para vós escultura, imagem de figura alguma, efígie de varão ou fêmea, 17figura de animal algum que está na terra, figura de ave alguma alada que voe pelo ar, 18figura de nenhum animal que se arraste sobre a terra, figura de peixe algum que haja na água debaixo da terra. 19Não seja que eleve seus olhos ao céu, e vendo o sol e a lua e as estrelas, e todo o exército do céu, seja impulsionado, e incline a eles e lhes sirva; porque Jeová seu Deus os concedeu a todos os povos debaixo de todos os céus" (Deuteronômio 4:15-19).

"portanto, amados meus, fujam da idolatria" (1 CO. 10:14).

Como é de supor, a política religiosa do imperador Leão III teve seus opositores, em especial entre os monges, dados como eram às representações religiosas (ídolos e imagens), e com eles o povo supersticioso e quase pagão. Um desses monges que liderava essa oposição foi João Damasceno, quem escreveu três apologias em favor do culto das imagens, aonde, por exemplo se podem ler as seguintes palavras: "Não corresponde ao Imperador fazer leis para reger à Igreja. Os apóstolos pregaram o evangelho; o monarca deve cuidar do bem-estar do Estado; os pastores e mestres se ocupam da Igreja". É certo o que escreve aqui o monge; mas, a Igreja mesma, ao aceitar a união com o Estado, não perdeu o direito de usar este argumento?
Apesar de tudo isto, o imperador seguiu sua política iconoclasta, e seus soldados destruíram toda sorte de esculturas e quadros, coisa que também serve de pretexto para frear o crescente poder dos ricos monastérios, e sujeitar à Igreja sob o poder do Imperador. A isto seguiram as lutas opositoras tanto de monges como do desorientado povo e até pelo mesmo patriarca Germano de Constantinopla. Muitos deles foram executados, deposto o patriarca iconólatra e substituído pelo iconoclasta Atanásio. Em Roma, o papa Gregório III (731-741) em oposição à política do imperador, convocou um sínodo romano no ano 731 ao que assistiram 93 bispos, decretando que em diante o que destruísse ou injuriasse imagens de Cristo, de Maria ou dos apóstolos e demais Santos seria excomungado.
Constantino V (741-775) sucedeu a seu pai Leão III no trono imperial, e em seu zelo iconoclasta convocou um concílio em Hieréia no ano 754, com a assistência de 300 bispos, quem apoiado nas Escrituras e a tradição patrística, condenaram o culto às imagens, deixando por sentado que os únicos símbolos do culto cristão se acham representados no pão e o vinho da ceia do Senhor, e de passagem denunciaram a tendência ariana ou nestoriana que implicava representar só a natureza humana de Jesus Cristo. devido a que isto encontrou forte oposição em Roma e o posterior triunfo da iconolatria no segundo concílio de Nicéia, este concílio da Hieréia não teve aceitação ecumênica. Como conseqüência dos decretos imperiais e a imposição à força dos acordos do concílio de Hieréia, os templos e monastérios do Império foram despojados de imagens e ícones, às vezes com o uso da violência. A verdade é que a um idólatra não lhe libera da idolatria lhe arrebatando e lhe destruindo seus ídolos; isso traz conseqüências adversas. Essa sanidade deve começar no coração, que em última instância é de onde sai toda a maldade, e esse trabalho de substituição da adoração aos ídolos pela adoração ao Deus vivo, só o faz o Senhor mediante Seu Espírito e pela obra de Seu Filho Jesus Cristo.
A política do imperador Leão IV (775-780), filho e sucessor de Constantino V, foi de mais tolerância, acredita-se que pela influência de sua esposa Irene, quem se inclinava para a adoração de ícones. À morte do imperador Leão IV no ano 780, Irene, sua viúva, teve a oportunidade de governar em qualidade de regente no trono de seu filho menor Constantino VI (780-797).

O concílio

Irene destituiu ao patriarca de Constantinopla e em seu lugar elevou a Tarásio ao patriarcado, quem vinha desempenhando-se como oficial civil; de maneira que teve que fazer os votos monásticos e ser ordenado sacerdote antes de ser eleito para ocupar a vacância no patriarcado. Com um patriarca surto dessa maneira, Irene bem podia empreender a restauração do culto das imagens no Império; e para isso decidiram convocar um concílio em Constantinopla em 786, mas encontraram a férrea oposição da guarda imperial, quem conseguiu dissolver a assembléia reunida na Basílica dos Apóstolos. Para livrar-se dessa oposição, teve que depurar o exército, e conseguiu inaugurar o concílio em 24 de setembro do ano 787, mas na cidade de Nicéia, aonde os bispos iconoclastas não tiveram representação. O papa romano Adriano I (772-795) não assistiu a este concílio, mas mandou seus legados, e a assembléia se considerou pelo sistema católico romano como o sétimo concílio ecumênico. O número de bispos assistentes superava os trezentos e cinqüenta.
Em substituição do imperador, foi Tarásio quem presidiu as reuniões do concílio, interessando-se por normalizar as relações entre essa facção da igreja e o Estado, a fim de que o patriarcado fosse reconhecido como autoridade suprema no relacionado com os dogmas, além de que se concedesse ao imperador autoridade tanto no relacionado com as leis eclesiásticas como na administração.

Restauração do culto à imagens

O segundo concílio da Nicéia tinha como objetivo anular as decisões do sínodo da Hieréia e condenar todos os decretos iconoclastas; estabeleceu o culto das imagens, aprovou o uso dos ícones, fomentou a idolatria e a superstição. Deste modo proibiu a nomeação de bispos pelo poder laico. Para justificar a adoração das imagens, os bispos conciliares pretextaram, entre outras coisas, que a Escritura era insuficiente a respeito. Este concílio condenou, acusando-os de "sacrílegos hereges", a todos os que consideravam as imagens "cristãs" como simples ídolos, e estabeleceu, bizantina e sutilmente, a enganação de que a Deus se rende culto de "latría", e aos Santos de "dulía"*(1).
* (1) Palavra tirava do verbo grego "douleno", servir

Conseqüências

Apesar de que Roma tinha avalizado as decisões aprovadas em Nicéia, o que seguiu foi que o aprovado por este concílio não teve imediata aceitação universal, pois muitos setores eclesiásticos do Oriente continuavam aderidos a suas convicções iconoclastas, e Ocidente se levantou contra a veneração de imagens. No Ocidente os papas tinham aprovado o uso de ícones, mas havia setores que, embora admitindo as imagens, negavam-se às venerar, reprovando as decisões do Concílio da Nicéia. Assim continuou por algum tempo a resistência entre os favorecedores dos ícones e imagens, por uma parte, e os iconoclastas, pela outra.
Carlos Magno (742-814), primeiro imperador do restaurado Império Romano do Ocidente, opôs-se às decisões do concílio de Nicéia em um escrito teológico, "Libri Carolini". Incidentalmente um sínodo ou anti-concilio reunido em Frankfurt e convocado pelo imperador Carlos Magno em 794, com a assistência de trezentos bispos ocidentais, incluídos dois representantes papais, condenou o decreto do concílio de Nicéia de 787 pelo qual permitiam coletar reverência às imagens, considerando de passagem dita assembléia não como um concílio ecumênico, a não ser simplesmente como uma reunião dos bispos gregos. Este sínodo pediu ao papa Adriano I que excomungasse aos bispos participantes em Nicéia, mas o papa soslaiou o assunto enredando-o tudo com sutis distinções entre "veneração" e "adoração". Diz em Mateus 16:24:
"Então Jesus disse a seus discípulos: Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome sua cruz, e me siga".
No versículo anterior a Escritura fala de levar a cruz, não de adorá-la. Na prática religiosa, quem costuma adorar a cruz, é inimigo de levá-la para morte do ego carnal. Mas não se trata da religiosa costume de carregar uma cruz metálica ou de madeira pendurada no peito. A cruz de Cristo não é ostentação de algo objetivo, a não ser a obediência subjetiva, e a morte ao mundo, ao pecado, à carne e ao eu. Mas ao final, Roma terminou impondo toda sorte de idolatria e superstição, porque seu destino era converter-se na grande prostituta.
Como nesses tempos a região nortenha da Itália ainda não tinha acatado a hegemonia papal, é meritório de se mencionar que na época carolíngia, Luis o Piedoso, sucessor de Carlos Magno, nomeou bispo de Turim ao espanhol Claudio (morreu em 839), famoso pregador, quem reprovou energicamente a veneração de ídolos, da cruz e a prática de solicitar a intercessão dos Santos; enfatizava a importância da devoção espiritual e a consagração pessoal a Deus. Crítico acérrimo da instituição papal, declarou que não deve ser chamado apostólico o que se sinta na suposta cadeira do apóstolo, a não ser o que faz a obra de um apóstolo. Em toda essa região do Piamonte perduraram testemunhas fiéis da ortodoxia bíblica, sem que se poluíssem de idolatria nem de papismo, virtuosa semente que ia germinando até que séculos mais tarde esta verdade entroncara com o movimento dos sofridos valdenses.depois de Irene, em Bizâncio houve imperadores que condenaram a idolatria, mas ressurgiu definitivamente com a Teodora, a esposa do imperador Teófilo, mulher idólatra que à morte de seu marido (ano 842) governou como regente de seu filho Miguel III (842-867), à maturação menor de idade. Então, como resultado da aceitação tanto em Oriente com o culto às imagens em quadros ou ícones, como no Ocidente com o culto às imagens esculpidas, as relíquias religiosas, a cruz, e outros objetos de duvidosa origem, o segundo concílio de Nicéia adquiriu o caráter de ecumênico. Este concílio também se destaca pela promulgação da «tradição» eclesiástica como autoridade, pondo sob anátema ao que a rechaçasse; assunto que completou o contra-reformador concílio de Trento oito séculos mais tarde.

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