domingo, 20 de setembro de 2009

13- Lião I

13
PRIMEIRO CONCÍLIO DO LIÃO
(XIII Ecumênico, segundo Roma)




Reunido na cidade de Lião, França, no ano 1245. Convocado pelo papa Inocêncio IV, para, principalmente, sentenciar a questão do papa com o imperador.

Antecedentes

O Imperador Frederico II, acontecida já morte de Inocêncio III, livre já da tutela de seu mentor de robusta personalidade, ocupou-se de reivindicar os direitos do Império. Mas vendo-se envolto em antagonismos com o papado, habilmente decidiu prometer entrar em defender os interesses da Igreja, como o de partir logo à Cruzada aprovada no anterior concílio. Mas no que ele pôs especial empenho foi na perseguição dos hereges, e não porque tivesse especial interesse por motivos religiosos, a não ser devido a que sob pretexto de heresia, lhe apresentava a oportunidade de exterminar a seus inimigos políticos. Com estas estratagemas obteve que o papa Honório III (1216-1227) coroasse-o Imperador em 1220.
Mas o papa Gregório IX (1227-1241), sucessor de Honório, excomungou ao Imperador, e este, em um gesto mais de astúcia política que de penitencia religiosa, partiu para a Palestina, mas em vez de usar as armas, contraiu matrimônio com a princesa Isabel, herdeira do reino da Palestina. Como resultado de algumas aproximações pacíficas com os muçulmanos, assinou um tratado com o Malek o Kumel do Cairo, por meio do qual tanto cristãos como muçulmanos podiam conviver nos Lugares Santos e adorar em seus respectivos templos e mesquitas. Como é de supor, esta cruzada pacífica não foi bem vista pela hierarquia romana, porque lesava os interesses do papado, e era visto como um desacato à autoridade espiritual do papa; de maneira que o papa e o imperador, pelas intrigas da política de seu tempo, acusavam-se mutuamente mediante libelos e rumores; o que trouxe como conseqüência outra excomunhão para o Imperador Frederico II, e acusações de heresia e blasfêmia; e mutuamente se acusavam de ser "o precursor do anticristo".
O enfrentamento armado tivesse sido nefasto para o papado, de modo que o supremo pontífice decidiu usar frente ao Imperador a arma da pluma, mediante a recopilação de uma série de "Decretais ", para reclamar a supremacia papal, apoiadas, como é de supor, nas "Pseudo-Isidorianas", às que já nos referimos.
Em 25 de junho de 1243, Sinibaldo Fieschi, cardeal da Gênova, era eleito papa, quem tomou o nome do Inocêncio IV. Para essa data, Frederico II se deu procuração dos Estados da Igreja, tempo no qual o Imperador fechou as rotas terrestres e marítimas, capturando muitos bispos, arcebispos e cardeais que na ocasião iam ao chamado papal para a celebração de um concílio que pusesse fim a aquela situação; inclusive alguns prelados e muitos genoveses morreram nos enfrentamentos armados.

O Concílio

Inocêncio IV, resultou sendo uma papa enérgico e decidido a fazer prevalecer as pretensões teocráticas do papado romano; não obstante que Roma estava sitiada, procurou a forma de burlar o cerco e viajou até a França, e na cidade do Lião, em 3 de janeiro de 1245, convocou um concílio.
Embora seja de supor que a este concílio assistiram 140 prelados da igreja latina, entretanto esta cifra é duvidosa para os historiadores; e até tendo-a por certa, historicamente este concílio é considerado um simples sínodo, e tido por concílio ecumênico só pelo mandato do papa romano.
Suas sessões, que foram três no total, abriram-se em 28 de junho de 1245, na catedral do Lião. O ponto central a discutir era a situação da Igreja frente ao Imperador, a quem lhe acusou de perjúrio, sacrilégio e heresia, e de mau trato contra os prelados. Finalmente Frederico II foi novamente excomungado, e sem consultar nem sequer com a representação eclesiástica alguma, menos a política, da Itália e Alemanha, Frederico foi deposto como Imperador e como Rei da Alemanha, jogando o papado o destino dos países europeus apoiando-se em fábulas e pretendidos direitos sobre o mundo, como pretendido dono e senhor de todo o mundo e suas nações, pessoas, bens e coisas em geral.
Inocêncio IV era um homem de um caráter enérgico e ambicioso, hábil político e dotado da astúcia capaz para declarar que não tinha sido Constantino quem deu o poder secular ao papado, como já se inventou, a não ser o próprio Cristo, declarando que o Senhor tinha baseado um reino terrestre e celestial; de maneira que o príncipe só era legítimo quando tinha recebido o poder secular por delegação do papa romano.
Vemos, pois, à cabeça da cristandade latina medieval a um autocrata apropriando do mundo no nome do Senhor Jesus, ordenando que todo clérigo devia obedecer ao papa até nas determinações injustas, pois quem julgava ao papa? E para firmar melhor esta tirania universal, dispôs as coisas de tal maneira que o clero mesmo estivesse integrado por homens ignorantes, que desconhecessem as Sagradas Escrituras; isto sem que se ignorasse que na missa se consegue fazer da hóstia o corpo de Cristo; de maneira que o clero, e quanto mais o laicado, só podiam saber que há um Deus que galardoa e castiga, as verdades básicas do Credo apostólico e toda a fileira de mentiras difundidas pelo romanismo medieval.
O que lhe acontecia, então, a quem se encontrassem com uma Bíblia em seu poder ou o pegassem conversando publicamente ou em privado sobre matérias de fé? Simplesmente era excomungado, e acabava como réu da Inquisição. De maneira, pois, que vemos os nefastos frutos da reforma gregoriana comentada nos capítulos anteriores.
Entre outras coisas, este concílio tratou de desalentar a sobrevivência de agrupamentos que surgiam em uma época em que ficou muito de moda a imitação das grandes ordens mendicantes ao estilo dos Franciscanos, Dominicanos, Carmelitas e Ermitões Agostinianos.

Conseqüências

Havendo-se ocupado principalmente em assuntos políticos, mais que nos anteriores, as conseqüências do primeiro concílio do Lião foram eminentemente políticas. Não nos deve sentir saudades, pois, observar que esse concílio é uma fidedigna declaração de que a Igreja definitivamente se converteu em uma força política mais, mas graças ao Senhor, a teocracia papal, embora fora sua mais alta ambição, não chegou a substituir de todo ao Império secular europeu que, por certo, tinha sido invenção do papado mesmo nos tempos de Carlos Magno.
Essas contínuas lutas e enfrentamentos entre o poder secular e o eclesiástico, entre o Imperador e o papa romano, em altares ao domínio das nações européias e até dos reino latinos de Constantinopla e Jerusalém, faziam muito dano a Europa, e foram o começo da debilitação e desprestígio paulatino de ambas as forças. Jamais se obteve um conveniente e prolongado equilíbrio nas relações entre o Estado e a Igreja. A partir desse momento, o papado maquiavélicamente foi transladando sua atração política da Alemanha para a França; enquanto isso a corrupção da cúria romana ia em aumento, em detrimento sobre tudo da cúria alemã, pois tudo o que tivesse que ver com esse reino, estava na mira da desgraça. OH épocas negras da história!

12- Latrão IV

12
CONCILIO DE LATRÃO IV
(XII Ecumênico, segundo Roma)



Reunido a fins do ano 1215 na catedral de São João de Latrão em Roma. Inocêncio III, o pontífice romano que marca a máxima cúpula do poder e influência papal na Europa em todos os tempos, convocou o que se considerou a mais importante das assembléias do catolicismo romano, sobre o qual ele manteve o absoluto domínio.

Panorama do antecedente historico

O papado romano tinha chegado ao cume de seu poder, convertendo-se no dono indiscutível do Ocidente, podendo ditar sua vontade a todos os monarcas e príncipes e a todos seus súditos. Lotario de Segni, um filho de conde, foi elevado à tiara pontifícia romana aos trinta e sete anos de idade com o nome de Inocêncio III, a qual ostentou desde 1198 até 1216; tempo durante o qual governou na Europa com mão de ferro, sendo em realidade, a julgamento de um bizantino, "não o sucessor de Pedro, mas sim de Constantino", ultrapassando a audácia e ambição de Hildebrando. Com ele se aperfeiçoou a lei canônica de tal maneira que se estabeleceu o princípio de que o papa romano é o oráculo de Deus na terra, sem oposição possível por parte de nenhuma criatura. Tendo proclamado a independência política do papado, erigiu-se por cima de todos os reis e príncipes laicos, contribuindo a doutrina de uma teocracia pontifícia e o papa como imperador do mundo. Inocêncio III, não obstante ter acrescentado o poder papal como o fez, jamais recebeu na história o qualificativo de "grande", nem foi canonizado, como os outros "grandes".
Com apóio nas falsificações Pseudo-Isidorianas, sob o pontificado de Inocêncio III, o poder papal chegou ao cume, e sobre tudo com a falsa premissa de que ao apóstolo Pedro, mais que à Igreja, tinha-lhe sido crédulo o mundo; e para completar a farsa, antes de Inocêncio III os papas tinham assumido o título de vigário de Pedro, mas a partir deste papa, começou a chamar-se vigário de Cristo; mas foi mais longe, dizendo ser o vigário de Deus no mundo, de modo que todo poder político tinha que estar sujeito ao papa romana. Então, como vigário de Cristo podia ser rei de reis e senhor de senhores.
O papado romano jogou mão de qualquer interpretação a seu emprego das Escrituras para entronizar-se sobre o mundo inteiro. É assim como diz Inocêncio III que o fato de que Pedro tenha caminhado sobre as águas, dá-lhes direito, seus supostos sucessores, a governar sobre todas as nações. Deste modo a menção de duas espadas em Lucas 22:38, tomaram como a simbologia do poder eclesiástico e o poder real; mas o mais grave é que ambas pertenciam ao papa, o qual outorgava uma delas ao rei para que a usasse segundo suas instruções e ao serviço da igreja romana; e de fato pôs e tirou imperadores, reis, condes e outras dignidades seculares, conforme seus interesses. Tergiversou e interpolou deste modo textos bíblicos como Deuteronômio 17, fazendo dizer à Escritura que quem não se submetia à decisão do supremo pontífice romano era réu de morte.
Ao princípio, Inocêncio III teve a intenção de capitalizar com os valdenses, e em vez de "Pobres de Lião", ofereceu-lhes se convertessem em uma ordem monacal de "Pobres Católicos", mas quando isso ocorria, já os valdenses tinham tido clareza de que a igreja papal não era bíblica; de maneira que cruelmente foram perseguidos e milhares levados ao martírio. Quando em 1517 se iniciou a Reforma protestante, os valdenses, bastante dizimados mas firmes, estavam disseminados pelas regiões de Piamonte e Saboya, na Itália. Tinha Inocêncio III um exército próprio e uma maquinaria de numerosos legados pontifícios e de eclesiásticos associados com as ordens religiosas, do qual se valeu para perseguir os albigenses e aos judeus. Inocêncio III proclamou uma cruzada para exterminar aos albigenses, e para isso, por ser os bispos mais mercenários que pastores, utilizavam o braço secular para acabar com a "heresia", e oferecia o perdão de todos os pecados e o paraíso a todos os que se alistassem para acabar com os albigenses. A guerra contra os albigenses no sul da França (1209-1229), teve como conseqüência a Inquisição com suas fogueiras contra os que o sistema considerava "hereges". Por exemplo, em Beziers, baluarte dos albigenses, os cruzados papais organizaram um indescritível banho de sangue. Foi tanta a barbárie, a rapina, a crueldade e a destruição, que foi exterminada a quase totalidade da população de cidades inteiras, sem discriminar se eram albigenses ou não, nem respeitando a idade nem o sexo. Eles se gabavam de que a "vingança divina" nesse açougue não tinha respeitado nem classe social nem sexo nem idade, caindo sob a espada quase vinte mil pessoas. Contra os judeus a política era conseguir que se esfriasse sua perseverança para seus princípios religiosos, mais que de extermínio, sob pena de castigá-los por sua rígida postura. É claro que durante o reinado de Inocêncio III se destacou a intolerância religiosa.

O concílio

As sessões do concílio se levaram a cabo de 11 aos 30 de setembro de 1215, com a assistência de 800 abades e mais de 400 bispos da asa latina da cristandade, além de representantes do Imperador Frederico II, e dos reis da Inglaterra, França, Aragom, Hungria, e dos patriarcados latinos de Jerusalém e Constantinopla. Sem a assistência dos bispos gregos, Latrão IV foi na realidade um concílio da igreja papal, aonde os bispos se reuniram em três sessões para que fossem proclamados e ratificados os decretos papais, personagem que se adotou plena jurisdição na igreja, e os bispos eram apenas seus assistentes.

Aprovações no concílio

1. Condenação de Joaquim de Flora (ou Fiore) e seu monacato profético.
Joaquim de Flora (1130-1202) nasceu na Calabria, no extremo sul da Itália, e tendo ingressado em um monastério cisterciense, depois de ter sido ordenado sacerdote, a contra gosto tinha sido feito abade do mesmo desde 1178 a 1188. Sempre desejou um caminho de vida monacal mais rígida, estrita e austera que o que tinha vivido ali, e seguido por um bom número de discípulos, fundou um monastério, o de São João Fiore, o qual obteve a aprovação papal. Então, qual foi seu problema frente ao papado? Joaquín sentia um profundo pesar pela progressiva corrupção da igreja, e sendo um dedicado estudante de profecia, aplicou sua forma de ver as coisas, no entorno eclesiástico de sua época, à interpretação profética, sobre tudo o livro de Apocalipse, vendo factível uma reforma da igreja por leitos monásticos, aos quais pretendia "espiritualizar". Dividia a história em três idades ou dispensas: a do Pai, a do Filho, e a do Espírito Santo, as quais se compunham a sua vez de subdivisões, de tal maneira que o último período terminaria em uma sociedade comtemplativa. Como é de supor, sua curiosa interpretação profética, chocava-se com os princípios imperiais e interesses papais da época, instituição, com o Inocêncio III à cabeça, que condenou as visões proféticas de Joaquim de Flora. Como resultado deste incidente, e alarmados pela proliferação de novos movimentos monásticos, dispôs que qualquer que desejasse fundar uma nova casa religiosa, devia aceitar para seu governo as normas e disciplina das já existents

2. Condenação de Berengário de Tours e definição da "transubstanciação".
Como se sabe, o sistema católico romano, e particularmente os monastérios medievais, tinha chegado a converter o singelo memorial que celebrava a igreja primitiva do Jantar do Senhor, em uma diária renovação do sacrifício do Senhor no Calvário, ao qual chamavam Eucaristia, ou Missa, palavra que em latim significa reunião; de maneira que não é incorreto dizer que Cristo instituiu a Santa Ceia e os monges a Missa. Tenha-se em conta que nessa época a Bíblia se constituiu em um livro de proibida leitura, de maneira que muito poucas pessoas tinham o privilégio de conhecer as Sagradas Escrituras e ter a oportunidade de ser fiéis pelo menos a algumas das doutrinas apostólicas contidas no Novo Testamento; porque se o clero dessa época, ou pelo menos os que tivessem o poder de decisão, tivesse retornado à Escrituras, a Missa tivesse sido desterrada da igreja. Quanto a "transubstanciação" implícita na Missa, nessa época ainda não tinha sido declarada dogma, embora já começava a receber carta de legitimidade na igreja, e autores do nível de Pascasio Radberto de Corbie, no século IX já se pronunciaram a favor da mesma.
Dos poucos que conheciam os ensinos apostólicos, e muito antes deste concílio, Berengário de Tours (998-1088), versado teólogo, canônico que tinha sido da catedral do Tours e logo arque-diácono e professor do Angers, havia sustentado que a Santa Ceia não tinha que entender-se em sentido material a não ser espiritual; pelo qual tinha sido condenado em vários sínodos, e em forma definitiva neste concílio. O que é a "transubstanciación"? Este concílio a proclamou como um dogma, com a seguinte definição:
"Seu corpo e seu sangue (de Cristo) estão verdadeiramente contidos no Sacramento do altar sob as formas do pão e o vinho; o pão é transubstanciado em seu Corpo e o vinho em seu Sangue pelo poder divino, de maneira que para aperfeiçoar o mistério da unidade, nós recebemos Dele o que Ele recebeu de nós".
De maneira que por um ato de poder milagroso, o sacerdote aparentemente podia fazer que Cristo se convertesse em um biscoitinho e em um pouco de vinho, e como conseqüência só sob a mediação do sacerdote podiam participar os fiéis, do Filho de Deus, e só por eles ser salvos, pois os sacramentos, de acordo com esse sistema, são o único meio de salvação; então a situação é triste quando o catolicismo romano mais tarde no concílio de Trento, sela e faz normativo e imperativo que uma pessoa não pode ser salva a não ser através do batismo que lhe administra um sacerdote católico, de uma confissão de pecados a um sacerdote católico e comendo o pão e bebendo o vinho em que supostamente se converteu Cristo em virtude do exclusivo poder de fazer esse milagre que tem o sacerdote católico.
Se meditarmos um pouquinho nesta situação do romano-papismo, temos que já o papa, por meio de armas tão capitalistas como a excomunhão às pessoas que não lhe sujeitassem, e a interdição a cidades, regiões e até os países, punham sob sua sujeição aos reis; mas a isto lhe adicionou que por meio dos "sacramentos" podiam sujeitar a vida de todos os indivíduos. em relação à Ceia do Senhor, o que diz a Palavra de Deus? Que é um memorial. Diz 1 Coríntios 11:23-25: "Porque eu recebi do Senhor o que também lhes ensinei: Que o Senhor Jesus, a noite que foi entregue, tomou pão; e tendo dado graças, partiu-o, e disse: Tomem, comam; isto é meu corpo que por vós é partido; façam isto em memória de mim. Deste modo tomou também a taça, depois de ter ceiado, dizendo: Esta taça é o novo pacto em meu sangue; façam isto todas as vezes que a beberem, em memória de mim". Por que a Ceia do Senhor é um memorial? Porque ao comer o pão e beber a taça estamos participando e desfrutando da morte do Senhor, quem se nos deu mediante Sua morte na cruz; é fazer autêntica memória Dele como nosso Redentor; é anunciar Sua morte redentora, da qual se produziu a Igreja. De maneira que o pão e a taça do Senhor representam Seu Corpo quebrantado por nós, e Seu sangue derramado por nossos pecados.
Nas Escrituras não encontram fundamento algum que aprove que os sacramentos e decretos católicos romanos sejam os meios postos Por Deus para ser salvos. Nosso Salvador é Jesus Cristo. Diz João 1:12-13: "Mas a todos os que lhe receberam (a Cristo), aos que acreditam em seu nome, deu-lhes poder de serem feitos filhos de Deus; os quais não são gerados de sangue, nem de vontade de carne, nem de vontade de varão, mas sim de Deus".

3. Estabelecimento da Inquisição.
Não contentes com o anterior, embora já tivesse começado na prática, este concílio aprovou canonicamente a Inquisição, e instituiu os tribunais chamados do "Santo Ofício", por meio dos quais "santificavam" a repreensão sangrenta de toda atitude contrária ao papado romano; de maneira que através da história foram milhões os seres humanos que foram encarcerados, torturados, seus bens confiscados, queimados ou passados pelas armas apenas porque eram albigenses, valdenses, mouriscos, judeus ou protestantes. A respeito diz José Grau:
"Em contraste com o que tinha sido costume na antiga lei romana, a Inquisição tinha por culpados aos acusados enquanto não se provava sua inocência, coisa difícil quando mediava a tortura como instrumento ‘judicial’. Não podiam os acusados tampouco ouvir nem conhecer seus acusadores, de maneira que qualquer pessoa estava exposta à perversidade das calúnias de seus inimigos. Lhes negava todo amparo legal. Não podiam apelar nem recorrer a ninguém e ficavam desprovidos de todo assessoramento jurídico, pois qualquer advogado que tivesse tomado sua causa tivesse sido excomungado a sua vez. Os filhos tinham que denunciar a seus pais ou vice versa. Aos filhos dos hereges devia perdoar-se-os a vida, dizia Inocêncio III, como um ato de misericórdia, mas tinham que ser depostos de todos seus cargos, sem possibilidade de voltar a ocupar nenhuma dignidade civil, além de lhes serem confiscados todos os seus bens. Estes passavam, a metade ao tesouro papal e a outra metade aos inquisidores. As autoridades civis tinham que se encarregar das provisões de lenha para as fogueiras e das execuções decretadas pelo ‘Santo Ofício'".*(1)
*(1) José Grau. "Catolicismo Romano: Origens e Desenvolvimento". E.E.E., Barcelona. 1987. Pág. 350.

4. Legislação anti-judaica.
Este papa se enfureceu contra os judeus. Além das medidas contra os albigenses, este concílio decretou que todos os judeus levassem algum distintivo sobre suas vestimentas; ou seja, ordenou que os judeus e sarracenos tivessem que vestir um sambenito ( roupa usada pelos condenados da inquisição) ou indumentária especial que os distinguissem de outros. Parte do cânon dizia: "Os judeus, tanto se for homem como uma mulher, em todos os países cristãos e em lugares públicos devem distinguir do resto da população mediante um tipo especial de vestuário...". Com isso, em parte, evitaria-se a relação sexual entre judeus e cristãos, o qual era um delito. Com estas medidas, começava para eles a discriminação, a formação do "ghetto", a degradação e considerando-os escória, um espetáculo para os "cristãos" da época, e entre quem (cristãos e hebreus) desta maneira, e a partir do século XIII, foi criando um muro de separação, cujas bases foram postas pelo papado. Proibiu aos judeus ocupar cargos públicos. O concílio condenou a usura e proibiu aos cristãos ter trato comercial com os judeus, para evitar que estes a exigissem. No fundo queriam evitar que os cristãos, por pagar a usura aos judeus, pusessem obstáculos para que a igreja lhes cobrasse os dízimos. Proibiu aos judeus exercer "profissões cristãs" e os confinou em guettos, com imposição de um horário de saída e entrada.
Também este concílio se ocupou de grande variedade de controvertidos temas, dos quais enumeramos os seguintes:
* Reconheceu e confirmou a coroa imperial ao Frederico II, o protegido do papa.
* declarou-se contra a Carta Magna, a constituição política inglesa e a melhor da Europa, com a qual o povo inglês se livrava do foro papal, pois submetia a seu soberano, nesse momento João sem Terra, às leis determinadas por seu povo e não aos papas romanos. Mas os ingleses não cederam ante as pretensões papais nem ante as ameaças de excomunhão.
* Convocou aos reino feudais latinos a uma nova cruzada, a V, para a conquista de Terra Santa, chamada associada com a curiosa afirmação do Inocêncio III de que Maomé era o homem do pecado, o filho de perdição, a besta de que nos falam as Escrituras, e de que a seu reino (o dos sarracenos) já lhe aproximava seu fim, pois só seria de 666 anos. Mas esta cruzada, pelo lado da Terra Santa foi um fracasso, pois a anterior cruzada tinha deixado uma má lembrança entre os ortodoxos orientais, pois em vez de ir resgatar os lugares Santos, foram-se a saquear a Constantinopla, e a cometer toda classe de luxúrias e vexames, deixando nos gregos um rastro indelével.
* Estabeleceu um corpo de legislação mais amplo que qualquer outro concílio subseqüente, incluindo o do Trento.
* Procurou a reforma do cristianismo católico e o melhoramento de vida da cristandade. Ditou leis a favor de uma melhor preparação do clero católico, em uma época em que uma percentagem considerável dos sacerdotes desconhecia até as Sagradas Escrituras. Ordenou que em cada sede episcopal metropolitana houvesse uma cadeira de teologia.
* Redigiu definições precisas a respeito de muitas doutrinas cristãs, como uma fórmula da Trindade, e outras.
* Promoveu a união com a asa bizantina do cristianismo.
* Tratou de elevar o nível da vida matrimonial e de família, regulando as leis e impedimentos do matrimônio entre seculares.
* Impôs a todos os católicos o dever de fazer sua confissão a um sacerdote quando menos uma vez ao ano, pois a prática anterior da penitência consistia em castigo e restauração públicos. Também promulgou o preceito da comunhão pascal.


Conseqüências
É fundamental ter em conta que a reforma promovida por Hildebrando e Inocêncio III para o catolicismo romano, afetou em primeiro lugar ao clero e à organização eclesiástica, pois na prática não foi a não ser para engrandecer temporalmente esse sistema. e não para reivindicar os princípios bíblicos da Igreja, nem para levar ao ignorante povo da época a um maior conhecimento do Senhor e às práticas das doutrinas apostólicas.
É elogiável que este concílio se preocupasse porque em cada catedral houvesse um mestre de gramática e outro de teologia, para a instrução do clero, pois muitas vezes esse grêmio logo que sabia ler e escrever. Como estariam os paroquianos desses tempos? Quando movimentos evangélicos como os valdenses quiseram adiantar a educação bíblica às pessoas, foram perseguidos e obstaculizados. Por esse tempo, o saber se foi concentrando nos monastérios das ordens religiosas, assim como o desejo de viver uma vida mais Santa; de modo que o laico tinha muito pouca participação e conhecimento para alcançar uma perfeição evangélica.
Neste concílio e a culminação da reforma da igreja ocidental, estabelecia-se que por igreja só se entendia aos bispos, os abades, o clero e monges que se submetiam à autoridade do papa; e isso não mudou, com suas nefastas conseqüências. A partir do Inocêncio III foi decaindo a teocracia pontifícia que pretendera perpetuar a reforma gregoriana.

11- Latrão III

11
TERCEIRO CONCÍLIO DE LATRÃO
(XI Ecumênico, segundo Roma)



Este concílio foi convocado pelo papa Alexandre III (Rolando Bandinelli) (1159-81). Reunido na basílica de São João de Latrão, em Roma, no ano 1179, para impor a disciplina eclesiástica. tomaram medidas adicionais para reformar ao clero frente à simonía. ocupou-se deste modo do cisma entre os papas do período do imperador Frederico I Barba roxa.

Antecedentes

Apesar do aprovado nos dois concílios latronenses anteriores, ainda seguia fermentando a virulência da teocracia legada por Hildebrando no romanismo; mas frente a esta teocracia, erigiam-se as ambições de Frederico I Barba roxa (1125-1190), quem subiu ao trono imperial com o firme propósito de reviver as idéias imperiais de Carlo-Magno, e restaurar a grandeza do Sacro Império Romano Germânico. depois de ter aprisionado a Arnaldo de Bréscia por suas idéias de restaurar a República em Roma, Frederico foi coroado em São Pedro em 18 de Junho de 1155 pelo papa Adriano IV, quem não via em Frederico a um governante superior ao papado, ao estilo de Carlo-Magno, a não ser a alguém inferior ao Supremo Pontífice, o qual teve suas irritantes conseqüências.
É interessante ter em conta que a supremacia que invocava cada um -papa e imperador- sobre o outro, refletia-se em abundantes regalias e benefícios. Frederico interpunha as concepções imperiais segundo o Direito Romano de Justiniano,*(1) querendo voltar assim para poder absoluto dos césares, mas o papa também movia suas fichas para reivindicar seus supostos direitos de suserano.
*(1) Favor ler o capítulo 5, Segundo Concílio de Constantinopla.

A Adriano IV o aconteceu no trono papal Alexandre III, experiente em doutrinas relacionadas com as pseudo-isidorianas e opositor contumaz de Frederico Barba roxa; mas a facção imperial escolheu ao cardeal Octaviano com o nome de Víctor IV, voltando-se para repetir temporalmente o caso de dois papas rivais, proliferando os sínodos para excomungar-se mutuamente; mas depois de muitos anos de lutas e intrigas, o imperador cedeu em favor do Alexandre III, a quem em um ato de arrependimento, e para que lhe levantasse a excomunhão, beijou-lhe os pés em Veneza, em 24 de julho de 1177.
Como é de se supor, frente a uma hierarquia eclesiástica dominante e entregue às intrigas feudais e interesses temporários e mundanos, houve reações do povo, às vezes mal enfocadas e fundamentadas em enganos, como o caso do movimento surto ao sul da França e norte da Itália, dos chamados Cátaros ("os puros") ou albigenses, de Albi, cidade francesa. Eles, embora de vida moralmente alta, retomando idéias gnósticas e maniqueas, eram dualistas; acreditavam em duas forças antagônicas igualmente eternas: uma que personificava o Bem e outra o Mal. De maneira que também estavam afastados da verdade do evangelho, atribuindo ao diabo todo ou parte do Antigo Testamento; eram inimigos do matrimônio, tendo-o por obra da carne; negavam a encarnação real e ressurreição corporal de Cristo; de maneira que eles atribuíam a salvação às obras de vida e ritos como o jejum, a repetição de certas orações e um chamado batismo espiritual. A reação do sistema contra tudo o que considerassem heresia e lhes opor, era perseguição com o uso da espada e a fogueira.

O concílio

Para consolidar a paz e apagar más lembranças, o papa Alexandre III convocou um concílio ecumênico, o qual se reuniu na basílica de São João de Latrão nos dias 5, 7 e 19 de março de 1179, com a participação de 291 bispos e abades, a maioria italianos. Em só três sessões, o papa fez passar em 27 cânones. Com razão o imperador chamou a este concílio "o concílio do Supremo Pontífice", o qual aprovou assuntos como os seguintes:
- Em adiante o papa seria eleito por uma maioria de votos das duas terceiras partes; sob pena de excomunhão e privação da ordem eclesiástica.
- Invalidação e deposição de todas as ordenações feitas pelos antipapas e seus ordenados.
- Proibição de possuir e usufruir várias dignidades eclesiásticas, pois às vezes uma só pessoa recebia o produto de várias paróquias, e por ser beneficiário ausente, empregava substitutos.
- Este concílio, além da excomunhão, proclamou uma cruzada contra os grupos considerados hereges, como os cátaros, a que foi, na opinião de alguns, a primeira ocasião em que o sistema católico romano empregasse este método contra quem se chamava cristãos.
- Houve também disposições contra os agiotas, sarracenos e piratas. Por exemplo, proibiu que os judeus e muçulmanos tivessem escravos cristãos. Este concílio, obrando em teoria em nome do cristianismo, declarou que nenhum cristão devia ser sujeito a servidão. Isto ia encaminhado a que entrassem novamente em vigor as antigas leis anti-judaicas, que proibiam rigorosamente aos judeus empregar cristãos a seu serviço. Aos cristãos lhes proibia viver nos bairros onde viviam os infiéis, como um passo para o futuro ghetto. Também este concílio declarou aos judeus suspeitos de colaboração com os "hereges" albigenses.
- Como em outros concílios medievais, legislou-se contra a simonía e a incontinência do clero.
- Pedro Valdo e seus seguidores, "os pobres de Lião", ante as restrições por parte de muitos bispos para pregar e evangelizar em sua qualidade de seculares, pediram a autorização a este concílio, mas foi negada. Embora o papa elogiou e admirou a pobreza dos evangélicos valdenses, não lhes concedeu o que solicitavam, apesar de que eles procuravam a reforma dos costumes sem apartar-se da obediência a Roma, nem criticá-la. Lástima grande, que cada vez que o Senhor tenha tocado as portas desse sistema para que voltem para Deus, fugiram de escutar os emissários do Senhor; ao contrário, perseguiram-nos, afrontaram-nos, golpearam-nos, encarceraram-nos, confiscaram-lhes seus bens e os levaram à fogueira. Não tiveram luz em seus olhos para ver o que o Senhor diz: "Se alguém quer vir em após mim, negue-se a si mesmo, e tome sua cruz, e me siga (Mateus 16:24). A linguagem dos valdenses era estranho para estes eclesiásticos, mais preocupados com as intrigas políticas e o engrandecimento do papado, que por glorificar ao Senhor que eles diziam representar, e ser instrumentos de Deus para a salvação das almas. Tão é certo o desta cegueira, que anos mais tarde um inquisidor de Passau chegou a declarar que os valdenses eram a seita mais perniciosa para a Igreja Romana, alegando que era a mais antiga, a mais estendida e por sua grande biografia de piedade. Isso nos demonstra que sempre houve um remanescente fiel ao Senhor e a fundamental doutrina dos apóstolos.

Conseqüências

Apesar da paz de Veneza e de sua ratificação no concílio, as fricções e lutas entre Federico e os sucessores do Alexjandre III no papado continuaram, até que o imperador pereceu afogado em 10 de junho de 1190, quando ficou à cabeça da terceira cruzada, em um intento por liberar o Santo Sepulcro.
O papa Lúcio III excomungou aos valdenses em um sínodo na Verona em 1183, mas eles, pela poderosa vontade de Deus, seguiram-se estendendo por todo Ocidente. Um sistema dominado pelo eclesiasticismo e a hierarquia clerical como o romanismo, vê uma ameaça em um movimento singelo e laico que além disso tem interesse em lhe ser fiel ao Senhor. Na história da Igreja, aos valdenses lhes conhece como um movimento precursor da Reforma, protagonistas como eram de uma luta frente a um sistema que se apartava cada dia mais da verdade; eram como um espelho onde podiam olhar os romanistas seus desvarios, enquanto que o papado se ia fortalecendo mais. Na medida em que o papado se afastava mais das doutrinas que pregava o apóstolo Pedro, mais se afundava nas "grandezas" das glórias terrenas pelas teorias legadas por Hildebrando sobre o governo da igreja romana e sua hegemonia universal.

10- Latrão II

10
SEGUNDO CONCÍLIO DE LATRÃO
( X Ecumênico, segundo Roma)




Convocado pelo papa Inocêncio II no ano 1139, reunido na basílica de São João de Latrão em Roma, imediatamente depois da morte de seu rival Anacleto II. Produziu a excomunhão do monarca Rogelio II da Sicilia e a condenação dos seguidores de Pedro de Bruys, pregador precursor da reforma no sul da França e Arnaldo da Breséia em Roma, por opor-se ao papado. Neste concílio houve um intento de sanar a divisão entre a igreja ortodoxa oriental e o catolicismo romano.

Panorama preconciliar
No panorama preconciliar corriam ventos de reforma. Na cristandade medieval se destacaram figuras proeminentes como o monge abade dos cistercienses Bernardo de Claraval, conspícuo místico, que por escrito e em eloqüente oratória defendia o que em seu momento ele considerava ortodoxo, e ataca as "heresias". Bernardo estava convencido da graça perdoadora de Cristo, graça obnubilada por sua vinculação às causas oficiais da igreja de Roma. Apesar de ser devoto da Virgem, nunca acreditou na imaculada concepção de María. Por vir isto de um dos personagens mais destacados da cristandade medieval, este novo "dogma" se retardou durante séculos em ser aprovado oficialmente por Roma.
Em tempos de Bernardo, e durante sete anos, houve simultaneamente dois papas: Inocêncio II (Gregório Papareschi) e Anacleto II (Pedro Pierleoni, de origem hebraica), também conhecido como "o papa do ghetto"; mas Bernardo de Claraval se inclinou a favor de Inocêncio II, e influiu ante o imperador Lotário III para que ficasse ao lado de Inocêncio. Ambos os papas tinham a seu favor um setor da cristandade latina.
Houve outros personagens que nesse mesmo tempo desejavam uma verdadeira reforma da Igreja, a qual se apartou da primitiva pureza; além disso, a reforma segundo os princípios gregorianos tinha dado amostras de ser impotente. Os fatos registrados no Antigo Testamento foram escritos para nosso exemplo e luz. Nos tempos do profeta Elias, em meio de uma grande apostasia nacional, nem mesmo o profeta mesmo sabia que havia sete mil israelitas que se guardaram de adorar ao Baal. Também no século XII, Deus tinha preservado alguns núcleos evangélicos, antirromanistas e anti-hierárquicos; núcleos que sempre existiram ao longo de toda a história da Igreja. Se você for cristão no melhor sentido da palavra, e não apela aos legalismos, às tradições e o meramente eclesiástico e clerical, é porque apela à Escritura e ao Espírito.
Entre essas pessoas que em seu momento se opuseram ao sistema, destacam-se Pedro de Bruys, Henrique de Lausana e Arnaldo da Bréscia. Destes três personagens, transcrevemos as palavras de José Grau, em seu livro: Catolicismo Romano: Orígens e Desenvolvimento:

"Cabe destacar em primeiro lugar a Pedro de Bruys, sacerdote francês de vida quase ascética, que rechaçava o batismo de meninos, as cerimônias eclesiásticas, o sacerdócio e as orações pelos mortos. Atacava a Igreja visível e só reconhecia a invisível no coração dos verdadeiros crentes. Estava contra os templos e a veneração de crucifixos. Ensinava que o que foi instrumento da morte de Jesus devia ser desprezado, por isso se deu à queima de cruzes, as usando inclusive para cozinhar seu mantimentos. O povo supersticioso não pôde resistir ao radical reformador e o jogou à fogueira em 1124. Seus numerosos seguidores foram chamados petrobrusianos e se estenderam amplamente pelas terras dominadas pelo papado. Tanto Pedro de Bruys como seus seguidores, foram muito exagerados e radicais em questões secundárias, mas temos que interpretar suas reações à luz (ou melhor dizendo: à sombra) do tenebroso espetáculo religioso de seus dias".
"Henrique de Lausana, que ao parecer teve contatos com Pedro de Bruys, era um ex-monge de Cluny, homem muito erudito e piedoso, que se condoia pela falsa
e supersticiosa esperança que o povo tinha nas relíquias. Pregou veemente contra as relíquias e incitou ao arrependimento e fé genuínos. Acreditava além que os sacramentos seriam válidos somente quando fossem administrados por sacerdotes Santos. Condenava a ostentação e o luxo do clero de seu tempo e seguia o movimento petrobrusiano. O bispo de Arles, indignado pelo apostolado do Henrique, prendeu-o e o conduziu ante um Sínodo reunido em Pisa no ano 1135, de qual pôde sair livre, mas ao opor-se Bernardo de Claraval, foi preso novamente e condenado a prisão perpétua. Morreu em 1149".
"Figura lhe sobressaiam entre estes pioneiros da Reforma, é a de Arnaldo da Bréscia, do qual se ocuparia amplamente o papa Inocêncio II e seu segundo concílio de Latrão. Arnaldo era um jovem e entusiasta cônego que atacou com fervente oratória o poder secular da Igreja, apoiando-se em uma concepção mais espiritual e bíblica do Corpo de Cristo. Pregou em favor de uma Igreja mais Santa e pura, de acordo com o modelo da Igreja apostólica. Sustentava que só a renúncia das posses materiais e da ambição secular poderia levar a uma renovação autenticamente cristã. Enquanto as teorias do Hildebrando advogavam pela supremacia teocrática da Igreja, Arnaldo desejava a completa separação entre o Estado e a Igreja. Isto lhe levou a pedir a restauração da antiga República de Roma em substituição do governo secular do papa. Arnaldo acreditava firmemente que a missão da Igreja é puramente espiritual e que por conseguinte não tinha que ir depois do poder e as riquezas, a não ser contentar-se com os dízimos e as ofertas voluntárias
".*(1)
*(1) José Grau. Catolicismo Romano: Orígens e Desenvolvimento. Edições Evangélicas Européias, Barcelona. Tomo I. 1987. P. 314.

Milão e grande parte das províncias do norte da Itália tinham permanecido por séculos remissos a submeter-se à jurisdição do papado romano; de maneira que quando Inocêncio II obteve por fim as submeter a sua autoridade no ano 1133, aos poucos anos, nessas mesmas regiões surgiu o foco principal do grande movimento evangélico medieval dos valdenses, que toma seu nome de Pedro Valdo, e que se relacionam com os chamados "pobres do Lião", condenados no Concílio III de Latrão em 1179. Estas coisas aconteceram muito antes de que nascesse Martinho Lutero.

O concílio

Convocado o concílio pelo papa Inocêncio II, suas sessões de quase um mês de duração, celebraram-se na basílica de São João de Latrão, a partir de 4 de abril de 1139, com a assistência dos bispos e abades do ocidente somente.
Como é de supor, este concilio sob o domínio absoluto de Inocêncio II, procedeu a depor a todos os bispos e clérigos que tinham estado do lado de seu rival Anacleto II, com anátemas e acusações de hereges e cismáticos a bordo. Apesar de que Anacleto II tinha sido eleito por um número de cardeais ligeiramente maior que ao Inocêncio II. A quantos incautos e singelos crentes fariam mal os líderes romanos com todas estas medidas politiqueiras. você vá a entender estas coisas desses infalíveis personagens. Além disso o concílio:
- Condenou a simonía, a usura, o luxo e relaxação de clérigos e monges. A estes lhes proibiu estudar medicina.
- Declarou nulo o matrimônio contraído por clérigos e monges a partir do subdiaconado.
- Passou no cânon chamado de "Privilégio", que condenava com a excomunhão aos que injuriassem ou maltratassem com violências físicas aos clérigos.
- Condenou ao Arnaldo da Bréscia a guardar silêncio, e suas teorias a respeito de uma igreja apostólica e humilde, tidas por heréticas.
- O cânon 23 acusou de heresia a Pedro de Bruys, ao qual o povo queimou.
- Excomungou politicamente ao rei Rogério da Sicilia, por ter apoiado ao Anacleto.

Conseqüências

Arnaldo de Bréscia, depois de haver se transladado a Paris, fugiu a Zurich, onde foi acusado de heresia por Bernardo de Claraval; logo foi preso por ordem do imperador Federico Barba roxa, em 1154, e mais tarde enforcado (1155) por ordem do papa Adriano IV, seu corpo queimado e suas cinzas lançadas ao rio Tiber.
Mas no povo foram sendo aceitos as colocações de Arnaldo, até o ponto que os romanos se levantaram em contra do poder secular do papa, e que se proclamasse a República. Não podiam a exaltação papal e a política gregoriana fazer mais que dano na cristandade; e no fundo muitos papas sinceros o reconheciam, como um Eugênio III (1145).