domingo, 20 de setembro de 2009

10- Latrão II

10
SEGUNDO CONCÍLIO DE LATRÃO
( X Ecumênico, segundo Roma)




Convocado pelo papa Inocêncio II no ano 1139, reunido na basílica de São João de Latrão em Roma, imediatamente depois da morte de seu rival Anacleto II. Produziu a excomunhão do monarca Rogelio II da Sicilia e a condenação dos seguidores de Pedro de Bruys, pregador precursor da reforma no sul da França e Arnaldo da Breséia em Roma, por opor-se ao papado. Neste concílio houve um intento de sanar a divisão entre a igreja ortodoxa oriental e o catolicismo romano.

Panorama preconciliar
No panorama preconciliar corriam ventos de reforma. Na cristandade medieval se destacaram figuras proeminentes como o monge abade dos cistercienses Bernardo de Claraval, conspícuo místico, que por escrito e em eloqüente oratória defendia o que em seu momento ele considerava ortodoxo, e ataca as "heresias". Bernardo estava convencido da graça perdoadora de Cristo, graça obnubilada por sua vinculação às causas oficiais da igreja de Roma. Apesar de ser devoto da Virgem, nunca acreditou na imaculada concepção de María. Por vir isto de um dos personagens mais destacados da cristandade medieval, este novo "dogma" se retardou durante séculos em ser aprovado oficialmente por Roma.
Em tempos de Bernardo, e durante sete anos, houve simultaneamente dois papas: Inocêncio II (Gregório Papareschi) e Anacleto II (Pedro Pierleoni, de origem hebraica), também conhecido como "o papa do ghetto"; mas Bernardo de Claraval se inclinou a favor de Inocêncio II, e influiu ante o imperador Lotário III para que ficasse ao lado de Inocêncio. Ambos os papas tinham a seu favor um setor da cristandade latina.
Houve outros personagens que nesse mesmo tempo desejavam uma verdadeira reforma da Igreja, a qual se apartou da primitiva pureza; além disso, a reforma segundo os princípios gregorianos tinha dado amostras de ser impotente. Os fatos registrados no Antigo Testamento foram escritos para nosso exemplo e luz. Nos tempos do profeta Elias, em meio de uma grande apostasia nacional, nem mesmo o profeta mesmo sabia que havia sete mil israelitas que se guardaram de adorar ao Baal. Também no século XII, Deus tinha preservado alguns núcleos evangélicos, antirromanistas e anti-hierárquicos; núcleos que sempre existiram ao longo de toda a história da Igreja. Se você for cristão no melhor sentido da palavra, e não apela aos legalismos, às tradições e o meramente eclesiástico e clerical, é porque apela à Escritura e ao Espírito.
Entre essas pessoas que em seu momento se opuseram ao sistema, destacam-se Pedro de Bruys, Henrique de Lausana e Arnaldo da Bréscia. Destes três personagens, transcrevemos as palavras de José Grau, em seu livro: Catolicismo Romano: Orígens e Desenvolvimento:

"Cabe destacar em primeiro lugar a Pedro de Bruys, sacerdote francês de vida quase ascética, que rechaçava o batismo de meninos, as cerimônias eclesiásticas, o sacerdócio e as orações pelos mortos. Atacava a Igreja visível e só reconhecia a invisível no coração dos verdadeiros crentes. Estava contra os templos e a veneração de crucifixos. Ensinava que o que foi instrumento da morte de Jesus devia ser desprezado, por isso se deu à queima de cruzes, as usando inclusive para cozinhar seu mantimentos. O povo supersticioso não pôde resistir ao radical reformador e o jogou à fogueira em 1124. Seus numerosos seguidores foram chamados petrobrusianos e se estenderam amplamente pelas terras dominadas pelo papado. Tanto Pedro de Bruys como seus seguidores, foram muito exagerados e radicais em questões secundárias, mas temos que interpretar suas reações à luz (ou melhor dizendo: à sombra) do tenebroso espetáculo religioso de seus dias".
"Henrique de Lausana, que ao parecer teve contatos com Pedro de Bruys, era um ex-monge de Cluny, homem muito erudito e piedoso, que se condoia pela falsa
e supersticiosa esperança que o povo tinha nas relíquias. Pregou veemente contra as relíquias e incitou ao arrependimento e fé genuínos. Acreditava além que os sacramentos seriam válidos somente quando fossem administrados por sacerdotes Santos. Condenava a ostentação e o luxo do clero de seu tempo e seguia o movimento petrobrusiano. O bispo de Arles, indignado pelo apostolado do Henrique, prendeu-o e o conduziu ante um Sínodo reunido em Pisa no ano 1135, de qual pôde sair livre, mas ao opor-se Bernardo de Claraval, foi preso novamente e condenado a prisão perpétua. Morreu em 1149".
"Figura lhe sobressaiam entre estes pioneiros da Reforma, é a de Arnaldo da Bréscia, do qual se ocuparia amplamente o papa Inocêncio II e seu segundo concílio de Latrão. Arnaldo era um jovem e entusiasta cônego que atacou com fervente oratória o poder secular da Igreja, apoiando-se em uma concepção mais espiritual e bíblica do Corpo de Cristo. Pregou em favor de uma Igreja mais Santa e pura, de acordo com o modelo da Igreja apostólica. Sustentava que só a renúncia das posses materiais e da ambição secular poderia levar a uma renovação autenticamente cristã. Enquanto as teorias do Hildebrando advogavam pela supremacia teocrática da Igreja, Arnaldo desejava a completa separação entre o Estado e a Igreja. Isto lhe levou a pedir a restauração da antiga República de Roma em substituição do governo secular do papa. Arnaldo acreditava firmemente que a missão da Igreja é puramente espiritual e que por conseguinte não tinha que ir depois do poder e as riquezas, a não ser contentar-se com os dízimos e as ofertas voluntárias
".*(1)
*(1) José Grau. Catolicismo Romano: Orígens e Desenvolvimento. Edições Evangélicas Européias, Barcelona. Tomo I. 1987. P. 314.

Milão e grande parte das províncias do norte da Itália tinham permanecido por séculos remissos a submeter-se à jurisdição do papado romano; de maneira que quando Inocêncio II obteve por fim as submeter a sua autoridade no ano 1133, aos poucos anos, nessas mesmas regiões surgiu o foco principal do grande movimento evangélico medieval dos valdenses, que toma seu nome de Pedro Valdo, e que se relacionam com os chamados "pobres do Lião", condenados no Concílio III de Latrão em 1179. Estas coisas aconteceram muito antes de que nascesse Martinho Lutero.

O concílio

Convocado o concílio pelo papa Inocêncio II, suas sessões de quase um mês de duração, celebraram-se na basílica de São João de Latrão, a partir de 4 de abril de 1139, com a assistência dos bispos e abades do ocidente somente.
Como é de supor, este concilio sob o domínio absoluto de Inocêncio II, procedeu a depor a todos os bispos e clérigos que tinham estado do lado de seu rival Anacleto II, com anátemas e acusações de hereges e cismáticos a bordo. Apesar de que Anacleto II tinha sido eleito por um número de cardeais ligeiramente maior que ao Inocêncio II. A quantos incautos e singelos crentes fariam mal os líderes romanos com todas estas medidas politiqueiras. você vá a entender estas coisas desses infalíveis personagens. Além disso o concílio:
- Condenou a simonía, a usura, o luxo e relaxação de clérigos e monges. A estes lhes proibiu estudar medicina.
- Declarou nulo o matrimônio contraído por clérigos e monges a partir do subdiaconado.
- Passou no cânon chamado de "Privilégio", que condenava com a excomunhão aos que injuriassem ou maltratassem com violências físicas aos clérigos.
- Condenou ao Arnaldo da Bréscia a guardar silêncio, e suas teorias a respeito de uma igreja apostólica e humilde, tidas por heréticas.
- O cânon 23 acusou de heresia a Pedro de Bruys, ao qual o povo queimou.
- Excomungou politicamente ao rei Rogério da Sicilia, por ter apoiado ao Anacleto.

Conseqüências

Arnaldo de Bréscia, depois de haver se transladado a Paris, fugiu a Zurich, onde foi acusado de heresia por Bernardo de Claraval; logo foi preso por ordem do imperador Federico Barba roxa, em 1154, e mais tarde enforcado (1155) por ordem do papa Adriano IV, seu corpo queimado e suas cinzas lançadas ao rio Tiber.
Mas no povo foram sendo aceitos as colocações de Arnaldo, até o ponto que os romanos se levantaram em contra do poder secular do papa, e que se proclamasse a República. Não podiam a exaltação papal e a política gregoriana fazer mais que dano na cristandade; e no fundo muitos papas sinceros o reconheciam, como um Eugênio III (1145).

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