domingo, 20 de setembro de 2009

11- Latrão III

11
TERCEIRO CONCÍLIO DE LATRÃO
(XI Ecumênico, segundo Roma)



Este concílio foi convocado pelo papa Alexandre III (Rolando Bandinelli) (1159-81). Reunido na basílica de São João de Latrão, em Roma, no ano 1179, para impor a disciplina eclesiástica. tomaram medidas adicionais para reformar ao clero frente à simonía. ocupou-se deste modo do cisma entre os papas do período do imperador Frederico I Barba roxa.

Antecedentes

Apesar do aprovado nos dois concílios latronenses anteriores, ainda seguia fermentando a virulência da teocracia legada por Hildebrando no romanismo; mas frente a esta teocracia, erigiam-se as ambições de Frederico I Barba roxa (1125-1190), quem subiu ao trono imperial com o firme propósito de reviver as idéias imperiais de Carlo-Magno, e restaurar a grandeza do Sacro Império Romano Germânico. depois de ter aprisionado a Arnaldo de Bréscia por suas idéias de restaurar a República em Roma, Frederico foi coroado em São Pedro em 18 de Junho de 1155 pelo papa Adriano IV, quem não via em Frederico a um governante superior ao papado, ao estilo de Carlo-Magno, a não ser a alguém inferior ao Supremo Pontífice, o qual teve suas irritantes conseqüências.
É interessante ter em conta que a supremacia que invocava cada um -papa e imperador- sobre o outro, refletia-se em abundantes regalias e benefícios. Frederico interpunha as concepções imperiais segundo o Direito Romano de Justiniano,*(1) querendo voltar assim para poder absoluto dos césares, mas o papa também movia suas fichas para reivindicar seus supostos direitos de suserano.
*(1) Favor ler o capítulo 5, Segundo Concílio de Constantinopla.

A Adriano IV o aconteceu no trono papal Alexandre III, experiente em doutrinas relacionadas com as pseudo-isidorianas e opositor contumaz de Frederico Barba roxa; mas a facção imperial escolheu ao cardeal Octaviano com o nome de Víctor IV, voltando-se para repetir temporalmente o caso de dois papas rivais, proliferando os sínodos para excomungar-se mutuamente; mas depois de muitos anos de lutas e intrigas, o imperador cedeu em favor do Alexandre III, a quem em um ato de arrependimento, e para que lhe levantasse a excomunhão, beijou-lhe os pés em Veneza, em 24 de julho de 1177.
Como é de se supor, frente a uma hierarquia eclesiástica dominante e entregue às intrigas feudais e interesses temporários e mundanos, houve reações do povo, às vezes mal enfocadas e fundamentadas em enganos, como o caso do movimento surto ao sul da França e norte da Itália, dos chamados Cátaros ("os puros") ou albigenses, de Albi, cidade francesa. Eles, embora de vida moralmente alta, retomando idéias gnósticas e maniqueas, eram dualistas; acreditavam em duas forças antagônicas igualmente eternas: uma que personificava o Bem e outra o Mal. De maneira que também estavam afastados da verdade do evangelho, atribuindo ao diabo todo ou parte do Antigo Testamento; eram inimigos do matrimônio, tendo-o por obra da carne; negavam a encarnação real e ressurreição corporal de Cristo; de maneira que eles atribuíam a salvação às obras de vida e ritos como o jejum, a repetição de certas orações e um chamado batismo espiritual. A reação do sistema contra tudo o que considerassem heresia e lhes opor, era perseguição com o uso da espada e a fogueira.

O concílio

Para consolidar a paz e apagar más lembranças, o papa Alexandre III convocou um concílio ecumênico, o qual se reuniu na basílica de São João de Latrão nos dias 5, 7 e 19 de março de 1179, com a participação de 291 bispos e abades, a maioria italianos. Em só três sessões, o papa fez passar em 27 cânones. Com razão o imperador chamou a este concílio "o concílio do Supremo Pontífice", o qual aprovou assuntos como os seguintes:
- Em adiante o papa seria eleito por uma maioria de votos das duas terceiras partes; sob pena de excomunhão e privação da ordem eclesiástica.
- Invalidação e deposição de todas as ordenações feitas pelos antipapas e seus ordenados.
- Proibição de possuir e usufruir várias dignidades eclesiásticas, pois às vezes uma só pessoa recebia o produto de várias paróquias, e por ser beneficiário ausente, empregava substitutos.
- Este concílio, além da excomunhão, proclamou uma cruzada contra os grupos considerados hereges, como os cátaros, a que foi, na opinião de alguns, a primeira ocasião em que o sistema católico romano empregasse este método contra quem se chamava cristãos.
- Houve também disposições contra os agiotas, sarracenos e piratas. Por exemplo, proibiu que os judeus e muçulmanos tivessem escravos cristãos. Este concílio, obrando em teoria em nome do cristianismo, declarou que nenhum cristão devia ser sujeito a servidão. Isto ia encaminhado a que entrassem novamente em vigor as antigas leis anti-judaicas, que proibiam rigorosamente aos judeus empregar cristãos a seu serviço. Aos cristãos lhes proibia viver nos bairros onde viviam os infiéis, como um passo para o futuro ghetto. Também este concílio declarou aos judeus suspeitos de colaboração com os "hereges" albigenses.
- Como em outros concílios medievais, legislou-se contra a simonía e a incontinência do clero.
- Pedro Valdo e seus seguidores, "os pobres de Lião", ante as restrições por parte de muitos bispos para pregar e evangelizar em sua qualidade de seculares, pediram a autorização a este concílio, mas foi negada. Embora o papa elogiou e admirou a pobreza dos evangélicos valdenses, não lhes concedeu o que solicitavam, apesar de que eles procuravam a reforma dos costumes sem apartar-se da obediência a Roma, nem criticá-la. Lástima grande, que cada vez que o Senhor tenha tocado as portas desse sistema para que voltem para Deus, fugiram de escutar os emissários do Senhor; ao contrário, perseguiram-nos, afrontaram-nos, golpearam-nos, encarceraram-nos, confiscaram-lhes seus bens e os levaram à fogueira. Não tiveram luz em seus olhos para ver o que o Senhor diz: "Se alguém quer vir em após mim, negue-se a si mesmo, e tome sua cruz, e me siga (Mateus 16:24). A linguagem dos valdenses era estranho para estes eclesiásticos, mais preocupados com as intrigas políticas e o engrandecimento do papado, que por glorificar ao Senhor que eles diziam representar, e ser instrumentos de Deus para a salvação das almas. Tão é certo o desta cegueira, que anos mais tarde um inquisidor de Passau chegou a declarar que os valdenses eram a seita mais perniciosa para a Igreja Romana, alegando que era a mais antiga, a mais estendida e por sua grande biografia de piedade. Isso nos demonstra que sempre houve um remanescente fiel ao Senhor e a fundamental doutrina dos apóstolos.

Conseqüências

Apesar da paz de Veneza e de sua ratificação no concílio, as fricções e lutas entre Federico e os sucessores do Alexjandre III no papado continuaram, até que o imperador pereceu afogado em 10 de junho de 1190, quando ficou à cabeça da terceira cruzada, em um intento por liberar o Santo Sepulcro.
O papa Lúcio III excomungou aos valdenses em um sínodo na Verona em 1183, mas eles, pela poderosa vontade de Deus, seguiram-se estendendo por todo Ocidente. Um sistema dominado pelo eclesiasticismo e a hierarquia clerical como o romanismo, vê uma ameaça em um movimento singelo e laico que além disso tem interesse em lhe ser fiel ao Senhor. Na história da Igreja, aos valdenses lhes conhece como um movimento precursor da Reforma, protagonistas como eram de uma luta frente a um sistema que se apartava cada dia mais da verdade; eram como um espelho onde podiam olhar os romanistas seus desvarios, enquanto que o papado se ia fortalecendo mais. Na medida em que o papado se afastava mais das doutrinas que pregava o apóstolo Pedro, mais se afundava nas "grandezas" das glórias terrenas pelas teorias legadas por Hildebrando sobre o governo da igreja romana e sua hegemonia universal.

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