domingo, 20 de setembro de 2009

13- Lião I

13
PRIMEIRO CONCÍLIO DO LIÃO
(XIII Ecumênico, segundo Roma)




Reunido na cidade de Lião, França, no ano 1245. Convocado pelo papa Inocêncio IV, para, principalmente, sentenciar a questão do papa com o imperador.

Antecedentes

O Imperador Frederico II, acontecida já morte de Inocêncio III, livre já da tutela de seu mentor de robusta personalidade, ocupou-se de reivindicar os direitos do Império. Mas vendo-se envolto em antagonismos com o papado, habilmente decidiu prometer entrar em defender os interesses da Igreja, como o de partir logo à Cruzada aprovada no anterior concílio. Mas no que ele pôs especial empenho foi na perseguição dos hereges, e não porque tivesse especial interesse por motivos religiosos, a não ser devido a que sob pretexto de heresia, lhe apresentava a oportunidade de exterminar a seus inimigos políticos. Com estas estratagemas obteve que o papa Honório III (1216-1227) coroasse-o Imperador em 1220.
Mas o papa Gregório IX (1227-1241), sucessor de Honório, excomungou ao Imperador, e este, em um gesto mais de astúcia política que de penitencia religiosa, partiu para a Palestina, mas em vez de usar as armas, contraiu matrimônio com a princesa Isabel, herdeira do reino da Palestina. Como resultado de algumas aproximações pacíficas com os muçulmanos, assinou um tratado com o Malek o Kumel do Cairo, por meio do qual tanto cristãos como muçulmanos podiam conviver nos Lugares Santos e adorar em seus respectivos templos e mesquitas. Como é de supor, esta cruzada pacífica não foi bem vista pela hierarquia romana, porque lesava os interesses do papado, e era visto como um desacato à autoridade espiritual do papa; de maneira que o papa e o imperador, pelas intrigas da política de seu tempo, acusavam-se mutuamente mediante libelos e rumores; o que trouxe como conseqüência outra excomunhão para o Imperador Frederico II, e acusações de heresia e blasfêmia; e mutuamente se acusavam de ser "o precursor do anticristo".
O enfrentamento armado tivesse sido nefasto para o papado, de modo que o supremo pontífice decidiu usar frente ao Imperador a arma da pluma, mediante a recopilação de uma série de "Decretais ", para reclamar a supremacia papal, apoiadas, como é de supor, nas "Pseudo-Isidorianas", às que já nos referimos.
Em 25 de junho de 1243, Sinibaldo Fieschi, cardeal da Gênova, era eleito papa, quem tomou o nome do Inocêncio IV. Para essa data, Frederico II se deu procuração dos Estados da Igreja, tempo no qual o Imperador fechou as rotas terrestres e marítimas, capturando muitos bispos, arcebispos e cardeais que na ocasião iam ao chamado papal para a celebração de um concílio que pusesse fim a aquela situação; inclusive alguns prelados e muitos genoveses morreram nos enfrentamentos armados.

O Concílio

Inocêncio IV, resultou sendo uma papa enérgico e decidido a fazer prevalecer as pretensões teocráticas do papado romano; não obstante que Roma estava sitiada, procurou a forma de burlar o cerco e viajou até a França, e na cidade do Lião, em 3 de janeiro de 1245, convocou um concílio.
Embora seja de supor que a este concílio assistiram 140 prelados da igreja latina, entretanto esta cifra é duvidosa para os historiadores; e até tendo-a por certa, historicamente este concílio é considerado um simples sínodo, e tido por concílio ecumênico só pelo mandato do papa romano.
Suas sessões, que foram três no total, abriram-se em 28 de junho de 1245, na catedral do Lião. O ponto central a discutir era a situação da Igreja frente ao Imperador, a quem lhe acusou de perjúrio, sacrilégio e heresia, e de mau trato contra os prelados. Finalmente Frederico II foi novamente excomungado, e sem consultar nem sequer com a representação eclesiástica alguma, menos a política, da Itália e Alemanha, Frederico foi deposto como Imperador e como Rei da Alemanha, jogando o papado o destino dos países europeus apoiando-se em fábulas e pretendidos direitos sobre o mundo, como pretendido dono e senhor de todo o mundo e suas nações, pessoas, bens e coisas em geral.
Inocêncio IV era um homem de um caráter enérgico e ambicioso, hábil político e dotado da astúcia capaz para declarar que não tinha sido Constantino quem deu o poder secular ao papado, como já se inventou, a não ser o próprio Cristo, declarando que o Senhor tinha baseado um reino terrestre e celestial; de maneira que o príncipe só era legítimo quando tinha recebido o poder secular por delegação do papa romano.
Vemos, pois, à cabeça da cristandade latina medieval a um autocrata apropriando do mundo no nome do Senhor Jesus, ordenando que todo clérigo devia obedecer ao papa até nas determinações injustas, pois quem julgava ao papa? E para firmar melhor esta tirania universal, dispôs as coisas de tal maneira que o clero mesmo estivesse integrado por homens ignorantes, que desconhecessem as Sagradas Escrituras; isto sem que se ignorasse que na missa se consegue fazer da hóstia o corpo de Cristo; de maneira que o clero, e quanto mais o laicado, só podiam saber que há um Deus que galardoa e castiga, as verdades básicas do Credo apostólico e toda a fileira de mentiras difundidas pelo romanismo medieval.
O que lhe acontecia, então, a quem se encontrassem com uma Bíblia em seu poder ou o pegassem conversando publicamente ou em privado sobre matérias de fé? Simplesmente era excomungado, e acabava como réu da Inquisição. De maneira, pois, que vemos os nefastos frutos da reforma gregoriana comentada nos capítulos anteriores.
Entre outras coisas, este concílio tratou de desalentar a sobrevivência de agrupamentos que surgiam em uma época em que ficou muito de moda a imitação das grandes ordens mendicantes ao estilo dos Franciscanos, Dominicanos, Carmelitas e Ermitões Agostinianos.

Conseqüências

Havendo-se ocupado principalmente em assuntos políticos, mais que nos anteriores, as conseqüências do primeiro concílio do Lião foram eminentemente políticas. Não nos deve sentir saudades, pois, observar que esse concílio é uma fidedigna declaração de que a Igreja definitivamente se converteu em uma força política mais, mas graças ao Senhor, a teocracia papal, embora fora sua mais alta ambição, não chegou a substituir de todo ao Império secular europeu que, por certo, tinha sido invenção do papado mesmo nos tempos de Carlos Magno.
Essas contínuas lutas e enfrentamentos entre o poder secular e o eclesiástico, entre o Imperador e o papa romano, em altares ao domínio das nações européias e até dos reino latinos de Constantinopla e Jerusalém, faziam muito dano a Europa, e foram o começo da debilitação e desprestígio paulatino de ambas as forças. Jamais se obteve um conveniente e prolongado equilíbrio nas relações entre o Estado e a Igreja. A partir desse momento, o papado maquiavélicamente foi transladando sua atração política da Alemanha para a França; enquanto isso a corrupção da cúria romana ia em aumento, em detrimento sobre tudo da cúria alemã, pois tudo o que tivesse que ver com esse reino, estava na mira da desgraça. OH épocas negras da história!

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