sexta-feira, 31 de julho de 2009

5- Constantinopla II

5

SEGUNDO CONCILIO DE CONSTANTINOPLA

(V Ecumênico)


O Segundo Concílio Ecumênico de Constantinopla, considerado o Quinto Concílio Ecumênico, foi celebrado no ano 553, convocado pelo imperador Justiniano I, para resolver a controvérsia monofisita. Suas sessões se levaram a cabo em Constantinopla, a Nova Roma. Este concílio recusou o ponto de vista dos três proeminentes teólogos da Antioquia (e os famosos «três capítulos») e desse modo aprovou a interpretação que Cirilo tinha dado às deliberações da Calcedônia.

Antecedentes
Vejamos um apertado panorama da situação político religiosa que se vivia no Império Romano em sua ala bizantina, nos anos prévios à convocatória do Segundo Concílio de Constantinopla. O imperador Justiniano I (governou entre 527-565), interessou-se pela uniformidade religiosa do império e trabalhou por uma política eclesiástica fortemente centralizada. É interessante saber que este imperador fechou todas as escolas de filosofia de Atenas, por considerará-las inconsistentes com o cristianismo; por mandato dele, tanto bispos como oficiais civis deviam perseguir as superstições pagãs; decretou a pena de morte para os maniqueos e para todos os hereges que depois de haverem-se retratado, voltassem para suas antigas crenças. Condenou por decreto aos nestorianos.

Em seu Código «Corpus Juris Civilis» (Corpo de leis civis), estabeleceu com sua autoridade ao bispo romano, nesse momento João II, como Chefe de todo o corpo eclesiástico do Império. Em sua carta ele trata de «Sua Santidade», e «por ser cabeça de todas as santas Igrejas», embora seu posterior proceder em relação à sede romana dá a entender que Justiniano não entendia muito bem o da primazia romana, como o caso de chegar a depor ao papa Silverio (536-537) ao cabo de um ano, pretextando que durante o sítio de Roma pelos godos, Silverio tinha favorecido aos sitiadores, (embora no fundo a verdadeira razão era que o papa se negou a reconhecer um patriarca monofisita de Constantinopla), e em seu lugar elevou à sede romana a Vigilio, um diácono favorecido pela imperatriz Teodora, na ocasião simpatizante dos monofisitas. Mas o curioso é que à convocatória do Segundo Concílio de Constantinopla, ante a negativa de Vigilio de assistir, Justiniano o trouxe à força a Bizâncio, e ante os contínuos protestos do papa, este foi destituído por Justiniano e banido, ante o qual Vigilio teve que ceder, e então foi quando pôde voltar para Roma, com a condição de que aceitasse o concílio. Sob sua concepção das coisas e em sua confusão das potestades civis e eclesiásticas, em realidade Justiniano considerava a Vigilio como um dócil chefe do "Departamento de Religião" do Estado. por que isto precisamente com a sede de Roma? Para ter influência sobre um grande número do Igrejas ocidentais.
Justiniano tomou o nome de Isapóstolos» (igual aos apóstolos), e ditou leis em que sujeitava as questões da vida da Igreja sob a jurisdição do imperador e o governo bizantino, tais como a eleição de bispos, o culto público, a administração dos bens e propriedades da Igreja, a ordenação do clero, a ingerência na moralidade do clero com relação a simonia, a compra de postos eclesiásticos, e a nomeação dos abades dos monastérios.
Justiniano trabalhou para obter o triunfo sobre seus rivais da fé ortodoxa lembrada no concílio de Calcedônia, especialmente sobre os arianos. Justiniano tratava de efetuar um convênio entre os partidários da Calcedônia e os mais moderados dos monofisitas, sobre a base de manter em executória os decretos da Calcedônia, mas inclinando-os para os pontos de vista de Cirilo de Alexandria, quem ao mesmo tempo que reconhecia o elemento humano de Cristo, subordinava-o ao divino. Para isso Justiniano se apoiou nos escritos de Leão de Bizâncio, um monge contemporâneo, quem empregando as "categorias" aristotélicas sustentava que se podiam assegurar as duas naturezas em Cristo sem cair no extremismo nestorianista, e que essas duas naturezas podiam estar tão mescladas e unidas entre si, que em Cristo não haveria a não ser uma hypóstasis, a do Logos.
Ainda nos tempos de Justiniano, eram tantos os bispados e os monastérios fiéis à heresia monofisita, que facilmente era confundida com a ortodoxia oficial, a tal ponto que a imperatriz Teodora simpatizava com esse engano cristológico, e até o imperador o considerava um ponto de vista capaz de ser reconciliado com a ortodoxia do Ocidente, aonde tinha sido plenamente aceita a fé da Calcedônia, apesar de que o concílio da Calcedônia tinha tido maioria de participação de bispos do Oriente.
Como se tinha afastado a cristandade daquele espírito evangélico que caracterizava aos que andaram com o Senhor pelos caminhos da Terra Santa, e logo depois dos discípulos destes! Como se tinha perdido o primeiro amor e o humilde zelo pelas coisas do Senhor! Como tinha cansado a Igreja do lugar aonde o Senhor a tinha levantado quando Ele foi levantado a cruz, quando Ele foi ressuscitado, e quando foi glorificado subindo ao Pai e enviando a Seu Santo Espírito! Nos tempos deste possante imperador, lastimosamente continuam em conflito as rivalidades patriarcais e o rigor de impor suas divergentes opiniões teológicas. A escola alexandrina seguia sustentando que a antioquena tinha sido esmagada em Éfeso no ano 431, e o monofisismo teria que triunfar, com esse inusitado florescimento que tinha tido no Oriente. O imperador observava tudo aquilo, vendo-o como um perigo para a unidade política do império, e devia tomar cartas no assunto.
Como o monofisismo tinha tomado tanta força, como uma medida conciliatória, e para aplacar aos egípcios e sua corrente alexandrina, o imperador Basiliso tinha condenado o Tomo, a carta dogmática de Leão I Magno, assim como a declaração ortodoxa da Calcedônia, em seu decreto « Encyclion», do ano 476. Deste modo Zenom, no ano 482, em seu decreto « Henotikon», tinha condenado a Eutiques e a Dióscoro, recusando o concílio da Calcedônia. Mas apesar destas medidas, não se tinha encontrado solução para o latente cisma da cristandade no Império. Os orientais não os aceitaram e os ocidentais os consideravam uma traição a Calcedônia.
No ano 544, para mostrar-se complacente com os poderosos monofisitas, o imperador Justiniano, assessorado por um conselheiro, expediu um decreto imperial por meio do qual condenava três escritos algumas vezes conhecidos com o nome de «Os Três Capítulos», por meio do qual condenava:
1. A pessoa e os escritos do Teodoro da Mopsuéstia, quem tinha tratado de justificar as idéias de Nestório sobre as duas naturezas de Cristo, e que tinham sido recusadas pela Igreja. Teodoro era teólogo da Escola teológica da Antioquia, onde se cultivava a erudição e se rechaçava a exegese alegórica.
2. Os escritos de Teodoreto de Ciro*(1) (386-458), exegeta e teólogo da escola da Antioquia, quem também se levantou em favor de Nestório, contra Cirilo da Alexandria e o concílio de Éfeso.

*(1) Teodoreto de Ciro, foi bispo. Historiador eclesiástico antigo, além de exegeta, teólogo e polemista. A ele se deve a clarificação das duas naturezas em Cristo, base do concílio da Calcedônia, contra as idéias monofisitas de Eutiques. É considerado o mais distinto teólogo da escola da Antioquia.

3. Uma carta de Ibas de Edessa, que defendia a Teodoreto contra Cirilo.
Este decreto despertou novas dissensões em vez de contribuir à harmonia, e Ocidente acreditou ver neste decreto imperial que condenava os Três Capítulos, uma reivindicação do monofisismo e um repúdio ao concílio da Calcedônia, onde Teodoreto de Ciro e Ibas de Edessa tinham sido reconhecidos dentro da comunidade ortodoxa; além disso, muitos bispos consideraram este decreto como iníquo por tratar-se de pessoas falecidas.
O "infalível" papa Vigilio interveio nesta controvérsia com uma atitude vacilante e contraditória de si mesmo. Recorde-se que lhe devia fidelidade à ortodoxia ocidental, mas de uma vez a Justiniano e a sua esposa, quem no ano 537 o tinham elevado à sede romana. Começou opondo-se ao decreto imperial e rompendo relações com o patriarca de Constantinopla. Logo foi a Constantinopla e, sob a pressão do imperador, trocou de parecer expedindo um «Iudicátum» apoiando a Calcedônia, mas condenando os escritos anatematizados pelo decreto imperial, tratando de ficar bem com todos. A sua vez o «Iudicátum» papal foi censurado pelo ocidente em pleno, e em especial por muitos bispos da Gália, África do Norte, Cítia, Dalmácia e Ilíria, onde o tinham por herege, já que comprometia a fé da Calcedônia, pelo qual o inconstante Vigilio retirou e anulou seu próprio «Iudicátum» em 550. O anterior deu por resultado que o imperador Justiniano convocasse o chamado Quinto Concílio Ecumênico, reunido em Constantinopla em 553.

O concílio
Fugindo das retaliações do imperador, Vigilio tinha se refugiado na Calcedônia, na catedral da Santa Eufêmia, onde tinham tido lugar as sessões do último concílio ecumênico, e tinha solicitado como condição para assistir ao novo concílio, que fosse igual o número de bispos ocidentais que orientais, o qual não se cumpriu; e apesar dos protestos de Vigilio, o concílio foi inaugurado em 5 de Maio do ano 553, pelo patriarca Eustáquio de Constantinopla, no templo episcopal.
Apesar da oposição de Vigilio e sua negativa a assistir pela entristecedora maioria grega, a assembléia confirmou a condenação dos Três Capítulos. Paralelamente, secundado por dezesseis bispos, e em sua intenção de dar um julgamento independente sobre os assuntos tratados no concílio, publicou um documento conhecido como o «Constitutum», aonde condenava sessenta proposições de Teodoro da Mopsuéstia, e proibindo a condenação dos outros capítulos. O concílio, sem romper relações com Roma, acusou a Vigilio de nestorianismo, e fez que o nome de Vigilio fosse apagado dos registros dos bispos, pelo qual, tendo sido banido por um decreto imperial, depois de seis meses de exílio, mediante um segundo « Constitutum», Vigilio concedeu legitimidade ao concílio, aceitou as decisões conciliar, condenando de passagem de novo "os Três Capítulos" e a seus defensores, e de retorno a Roma, morreu no caminho em 554.
Desta maneira foi feita oficial para o cristianismo ortodoxo a interpretação cirílica da Calcedônia. Com a condenação de três de seus mais insignes representantes, a escola antioquena recebia um duro golpe de sua rival alexandrina, cuja sistema alegórico se imporia nefastamente por muitos séculos na história da Igreja. Não obstante, este concílio de Constantinopla II não teve o reconhecimento de muitos bispos na Itália e Gália.
Para compensar ante o resto da cristandade as decisões expostas acima, este concílio condenou alguns dos ensinos errôneos atribuídos a Orígenes e três obras atacadas pelos monofisitas. Orígenes, antigo professor da escola da Alexandria, tinha ensinado a criação eterna do mundo, a negação da ressurreição corporal, a salvação universal e a existência pré-terrestre das almas. Também confirmou o concílio as prerrogativas do patriarca de Constantinopla, pois o liberou da jurisdição do metropolitano da Heraclea, na Trácia, e lhe atribuiu uma classe somente superada pelo de Roma.

Conseqüências
face à intenção de Justiniano, o Quinto Concílio Ecumênico não restaurou a unidade da Igreja, pois não conseguiu reprimir o que ameaçava à ortodoxia. Este concílio, que não contribuiu nada construtivo à Igreja, não foi considerado ecumênico a não ser muito mais tarde, e por mais de um século uma parte das Igrejas do Ocidente esteve separada do resto da Igreja. Como é de se supor, a heresia monofisita não foi extinta, mas sim se vigorizou, e a condenação dos Três Capítulos ia em contra mão das decisões da Calcedônia, e paradoxalmente um concílio condenava parte do que outro tinha aprovado. Daí que Justiniano, esgotados os meios da negociação, da persuasão, da convocatória de um concílio, decidiu a última instância conseguir essa unidade cristã e ortodoxa por meio da força, mas a morte o surpreendeu em seu intento de impor desse modo seus pontos de vista cristológico. O monofisismo chegou a desenvolver-se tanto, que Tiago Baradeu, nascido aproximadamente no ano 490, sendo bispo e dedicado à vida ascética, viajando quase sempre a pé, vestido só de roupas feitas de pêlo de cavalo, estendeu o monofisismo e o fortaleceu, de tal maneira que chegou a consagrar a dois patriarcas, oitenta e nove bispos e cem mil sacerdotes, do ano 542 a 578.
Por um lado o Código de Justiniano, o «Corpus Juris Civilis», serviria para elevar ao Romano Pontífice sobre todos os domínios políticos e religiosos da Europa, e como conseqüência a instituição católica romana impediu que a luz do evangelho iluminasse sobre o continente europeu, e em seu lugar sobreviesse uma era de trevas e de paganismo disfarçado de cristianismo. De onde surgiu o cesaropapismo medieval? Remeta-se ao Código de Justiniano e a dominação da Igreja pelo imperador, que se tinha iniciado com Constantino e que tinha chegado a seu clímax com Justiniano, e que fez da Igreja um instrumento do Estado. Por isso o cesaropapismo também foi chamado bizantinismo.
Por outro lado, o triunfo da escola alexandrina deu bases ao papado para que se erigisse por cima das Escrituras, como único intérprete autorizado, dando à Palavra de Deus um caráter misterioso e um significado escuro, que o Senhor nunca lhe deu.
A Bíblia mesma se encarrega de rebater o engano monofisita. As Sagradas Escrituras nos dizem que na única Pessoa do Senhor Jesus Cristo existem as duas naturezas, a divina e a humana; que é verdadeiro Deus e verdadeiro Homem. Por exemplo:
"No princípio era o Verbo, e o Verbo era com Deus, e o verbo era Deus" (João 1:1).
"15 Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda criação. 16Porque nele foram criadas todas as coisas, as que há nos céus e as que há na terra, visíveis e invisíveis; sejam tronos, sejam domínios, sejam principados, sejam potestades; tudo foi criado por meio dele e para ele. 17 E ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas nele subsistem. 9Porque nele habita corporalmente toda a plenitude da Deidade" (Colossenses 1:15-17; 2:9).
"O qual, sendo o resplendor de sua glória, e a imagem exata de sua substância, e quem sustenta todas as coisas com a palavra de seu poder" (Hebreus 1:3).
"2 Nisto conheçam o Espírito de Deus: Todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne, é de Deus; 3 E todo espírito que não confessa que Jesus Cristo veio carne, não é de Deus; e este é o espírito do anticristo, o qual vós ouvistes que vem, e que agora já está no mundo" (1 João 4:2,3).
"Porque há um só Deus, e um só mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem" (1 Timóteo 2:5).
"Porque assim como pela desobediência de um homem os muitos foram constituídos pecadores, assim também pela obediência de um, muitos serão constituídos justos" (Romanos 5:19).
"Porque por quanto a morte entrou por um homem, também por um homem a ressurreição dos mortos" (1 Coríntios 15:21.
As Escrituras abundam em textos que declaram que o Senhor Jesus é Deus e Homem, ou melhor Deus-Homem. Quem pretende anular Nele Sua natureza humana, com isso está negando Seu poder de ser nosso substituto em Sua obra na cruz.

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